quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Carta de amor pra ninguem

Nunca suportara as manhãs quentes daquela epoca do ano, mas esta manhã era especial. Não havia apenas a bagunça de sempre nem o cheiro de cigarros em sua cama, tão comum aos dias seguintes as visitas dela, nem as roupas espalhadas pelo chão do quarto eram somente as suas.
Já tinha acordado com ela diversas vezes, sempre pensando nela. Sonhando com ela. Era a primeira vez que acordava, de fato, ao seu lado. A cama era pequena, mas abraçavam-se de tal forma que pareciam um, do mesmo modo como fizeram durante toda a noite. Abraçavam-se como que para não deixar que o outro fugisse, abraçavam-se querendo ficar assim para sempre.
Não queria levantar. Ela já estava de pé, disse que não dormira bem devido ao calor e lembrava-lhe de que já estavam atrasados. Chamou-a devolta para a cama, não queria levantar. Ficaram juntos mais um pouco atrasando-se e desejando que o tempo parasse. Não parou e eles partiram deixando para trás a bagunça, os cigarros e aquela que tinha sido a noite mais quente daquele mês de novembro.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Boato

Para I. Saldanha.

Não acredito, não pode ser! É verdade. Tem certeza? Claro que sim, estão todos comentando! Meu Deus, é inacreditável. Eu sei, mas é a mais ura verdade! Mas são tantas as contradições! Todos a viram, não há mais o que esconder. Em plena terça feira e a essa hora da manhã? Sim, em plena terça feira, a essa hora da manhã! Ela já sabe? Sabe o que? Que todos sabem! Sabe, mas finge que não sabe. E ele, o que disse? Acho que não sabe ainda. Como não sabe? Estão todos comentando! Ele negou tudo, disse que não houve nada. Então ele sabe? Não sei. Não me surpreende que ele o tenha feito. Nem a mim! Ela é que me surpreende! A mim também, tens certeza de que era mesmo ela? Mas é claro! Estão todos comentando! Mas justo ela? Ela que sempre me pareceu ser tão bobinha... Quem diria, não? Será que o pai dela sabe? Não sei, mas estão todos comentando.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Doce amizade...

Para R. Machado.

Ah, doce amizade!
Amizade aquela que parece sem fim, sentimento este que após todas as brigas ainda se confunde com amor e que mesmo depois de um ano ainda resiste como se fosse ontem. As brigas e os conflitos vêm e vão e se perdem no tempo e ficam na memória distante de um passado tão próximo. As conversas sem fim, os segredos trocados e as gargalhadas pela madrugada a fora são relembrados como se fossem ontem, e foram! Nem parece que aconteceu menos de três anos atrás.
Menos de três anos atrás aqueles dois garotos tão diferentes se conheciam meio que por acaso e conversavam meio que sem querer sobre qualquer assunto sem graça e, ainda sem querer, se conheciam cada vez mais e cada vez mais se conheciam melhor e o melhor de tudo é que gostavam de se conhecer!
O que quer que isso seja vai crescendo, e mudando, e virando tudo de cabeça pra baixo e de volta ao normal! E aqueles dois garotos sem graça e sem jeito, nós dois, que, por acaso, se conheceram naquela manhã tão normal cultivam até hoje, sem medo, aquela tão improvável amizade que continua nos parecendo tão natural.
Ah, amigo, és a mais improvável e doce amizade que eu, ainda sem graça, poderia ter!